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Orgulho GDG Basquetebol

por gdgbasquetebol, Quinta-feira, 16.03.17

O lema que adoptámos em 2015-2016 não podia ter hoje melhor expressão: Ser GDG é ser Único.

Isto vem a propósito da equipa Marian Knights - Campeonato Universitário Feminino (USA) ter conquistado há dois dias, pelo segundo ano consecutivo, o título de campeã nacional.

Soeiro.JPG

Mas tudo seria irrelevante se na equipa Marian Knights não fizesse parte a atleta formada no GDG Basquetebol, Joana Soeiro. Mais se torna significativamente relevante pelo facto da Joana Soeiro ter sido distinguida como a melhor jogadora do Campeonato. Orgulho GDG. Parabéns, Joana Soeiro.

A pretexto, aproveitamos para republicar (com a devida autorização e os devidos créditos) a recente entrevista que a Joana Soeiro concedeu ao Daniel Nunes Vareta para a rubrica “Gafanhões pelo mundo”, onde a Joana não esquece a sua origem e formação nesta família que é o GDG Basquetebol.

Hoje é dia de inaugurar mais uma rubrica que vem ao encontro de um dos objectivos do grupo, que é o de manter contacto activo com todos os Gafanhões, inclusive os que estão fora de Portugal ou da nossa Gafanha da Nazaré. Esta rubrica vai-se chamar “Gafanhões pelo mundo” e consiste em dar a conhecer o que andam a fazer os Gafanhões fora do nosso país. Esta rubrica não vai ter uma periodicidade definida.
Para começar esta rubrica, estive à conversa com a Joana Soeiro. Mas quem é a Joana Soeiro? Se calhar poucos neste grupo não saberão quem é a Joana mas eu faço uma breve introdução. A Joana é uma jovem e bastante promissora jogadora de basquetebol que presentemente joga na equipa universitária da Marian University, no estado de Indiana e que há poucos anos atrás se sagrou campeã da II divisão de basquetebol da NAIA (National Association of Intercollegiate Athletics), que em Português significa qualquer coisa como Associação Norte Americana de Desporto Interuniversidades. Agradecemos desde já a disponibilidade incansável da Joana desde o primeiro momento.Sem mais demoras, vamos à entrevista porque ela é longa, mas garanto-vos, vale bem a pena.

DANIEL: Quando é que foste para os Estados Unidos da América e em que circunstâncias?

JOANA - Eu vim para os Estados Unidos em 2014, logo a seguir a ter regressado do campeonato da Europa onde estive com a Seleção Nacional de Portugal. Fui recrutada por uma ex-colega de equipa no Algés (clube onde eu joguei depois do Gafanha e antes de vir para os EUA) que jogou na WNBA.

DANIEL: Quais as principais diferenças entre o basquetebol na Europa e nos EUA.

JOANA - Na minha opinião, o jogo na Europa é muito mais pensado, enquanto que aqui o jogo é muito mais físico. Recentemente as regras aqui foram alteradas, passando-se a jogar com quatro períodos, enquanto que quando eu cá cheguei, em 2014, o jogo era jogado apenas com dois períodos (cada um com 20 minutos). Há mais tempo de ataque e, outra grande diferença, é que aqui se canta sempre o hino Americano antes do jogo começar (em Portugal só se canta o hino quando se joga pela Selecção Nacional).

DANIEL - Tu estás em Indiana, que é conhecido por ser um estado onde o basquetebol é muito popular. Como é jogar num sítio onde o basquetebol faz parte do dia-a-dia das pessoas?

JOANA - Não só em Indiana mas neste país em geral, as pessoas gostam de assistir a um bom jogo de basquetebol em família. Sempre que jogamos, especialmente aos sábados, há famílias (que não são familiares de jogadores ou treinadores) que pagam entrada e assistem aos jogos universitários. É outra mentalidade.

DANIEL - Como é jogar num ambiente desses? Tens ideia de quantas pessoas estão no pavilhão por jogo?

JOANA - Raramente jogamos um jogo com menos de 600 ou 700 espectadores. Depende muito do jogo, se for uma final, um jogo de conferência, ou um bom jogo em geral, o pavilhão enche. O pavilhão da minha universidade é considerado pequeno aqui, mas em comparação com a maioria dos pavilhões europeus, pode-se considerar grande. Acho que nem é preciso dizer que o clima num pavilhão onde os fãs vivem o jogo como se vive um Benfica-Porto no futebol em Portugal, é das melhores sensações que um jogador pode sentir.

DANIEL - Tens algum tipo de ritual antes de entrares em campo?

JOANA - Sim, como equipa somos bastante supersticiosas. Usamos todas as mesmas meias, rezamos todas juntas no balneário antes do jogo, quando viajamos sentamo-nos sempre nos mesmos lugares, temos um reportório de músicas escolhido por todas nós que o media staff passa durante o aquecimento e, claro, os famosos handshakes Americanos entre todas nós. Individualmente, não sou muito supersticiosa, se sei que tive uma boa semana de treinos então sei que estou pronta para jogar.

DANIEL - Qual a tua grande referência no Basquetebol?

JOANA - Steph Curry é um jogador que respeito e admiro bastante. No basketball feminino Kelsey Plum é uma jogadora fora de série que recentemente bateu o recorde de melhor marcadora da NCAA de todos os tempos.

DANIEL - Em relação aos estudos. É fácil conciliar os estudos com os treinos e jogos? Sei que ontem, por exemplo, tiveste jogo. Qual foi o resultado desse jogo já agora?

JOANA - Neste momento ganhamos tudo o que havia para ganhar e estamos sentadas num recorde de 30 vitórias e apenas 3 derrotas nesta época. Ganhámos a conferência e o torneio da conferência, e neste momento estamos a caminho do March Madness que é quando as top 32 universidades do país jogam para se decidir quem é o campeão nacional. O nosso campeonato nacional é em Sioux City, no estado de Iowa. Uma equipa que consegue chegar aos nacionais tem mais 3 semanas de basquetebol do que as equipas que não se apuram. Isto tudo para conseguir mostrar que de Outubro a Março, aqui treina-se todos os dias e joga-se duas vezes por semana. Das 3 às 6 da tarde há treino e musculação, o único tempo que tenho para estudar é mesmo à noite. Por vezes o cansaço toma conta de nós e é preciso ter muita força de vontade para sair de casa e ir para a biblioteca estudar para um exame ou trabalhar num projecto. No entanto, as universidades norte americanas oferecem as melhores condições aos estudantes/atletas. Os professores apoiam os estudantes na prática do desporto e entendem que o nosso tempo livre simplesmente não existe. Quando há conflito entre um exame e um jogo, os professores são obrigados a alterar a data do exame do aluno para este poder viajar com a equipa e estar presente no jogo.

DANIEL – Mesmo assim, tens algum tempo para ter hobbies?

JOANA - Como a resposta anterior mostra, não tenho muito tempo para hobbies eheheh.

DANIEL - O que pretendes fazer quando acabares a tua carreira universitária? Queres jogar nos EUA? Voltar para a Europa?

JOANA - Depois de terminar a minha carreira universitária aqui nos EUA pretendo voltar para a Europa e encontrar uma equipa para jogar profissionalmente.

DANIEL - Quais os teus objectivos na modalidade?

JOANA - Pretendo jogar ao nível mais alto que as minhas capacidades me permitam.

DANIEL - Se tivesses de voltar a Portugal, em que equipa gostarias de jogar?

JOANA - Neste momento, não tenho acompanhado a liga Portuguesa bem o suficiente para poder responder a esta pergunta, mas sei que equipas como o CAB Madeira, Quinta dos Lombos e Sportiva sempre foram equipas com muita qualidade no sector feminino.

DANIEL - Quando tinhas apenas 15 anos de idade já jogavas nos Seniores do Gafanha. Podes-nos contar um pouco da experiência de jogar com atletas mais velhas e mais experientes?

JOANA - Foi incrível, sempre tive muita sorte nos treinadores que me foram formando até eu ter dado o salto (Liga Feminina). A oportunidade que me foi dada no Gafanha ajudou-me imenso na preparação para o que mais tarde tive que enfrentar no Algés. Estou para sempre grata a todos aqueles que no Gafanha acreditaram nas minhas capacidades desde a família, treinadores a colegas de equipa.

DANIEL - Segues de alguma forma o Basquetebol do Gafanha? saberás que recentemente as sub 16 se tornaram campeãs distritais. O que tens a dizer sobre o futuro da secção de Basquetebol do Gafanha?

JOANA - O Gafanha sempre foi um dos melhores clubes de formação, pelo menos da zona de Aveiro. Todos estes feitos são fruto de muito trabalho e dedicação por parte da grande família que compõe o GDG (pais, atletas, direcção, treinadores). Vou acompanhando de longe o sucesso de um clube que vai estar para sempre no meu coração.

DANIEL - Com que frequência vens à Gafanha?

JOANA - Vou à Gafanha no verão e sempre que me é permitido pelos meus treinadores. Também vou à Gafanha no natal para estar com a minha família.

DANIEL - Do que é que mais gostas na Gafanha?

JOANA - Gosto de TUDO na Gafanha. S comecei a dar valor à cidade quando deixei de lá viver por causa do basquetebol. Infelizmente só damos valor às coisas quando deixamos de as ter.

DANIEL - Do que mais sentes falta da Gafanha? Presumo que seja um belo bacalhau? Ou umas chouriças?

JOANA - Sinto falta da comida claro. Não sou muito adepta da alimentação Americana, nem de perto nem de longe. Também sinto saudade de poder sair de casa a pé à noite e dar uma caminhada até ao jardim Oudinot, especialmente numa boa noite de verão.

DANIEL - Se tivesses de definir a Gafanha numa palavra, qual seria?

JOANA - Paz.

DANIEL - Esta rubrica chama-se “Gafanhões pelo mundo”, pelo que é inevitável fazer-te a seguinte questão: tens como objectivo um dia voltar em definitivo para a Gafanha?

JOANA - Nunca sabemos o dia de amanhã. Não sei onde vou estar no próximo ano assim que me graduar pois quando se é atleta profissional, o desporto força-nos a ter uma vida nómada. Contudo, a Gafanha para mim será sempre paragem obrigatória. Não consigo ficar longe da minha família nem da minha terra durante muito tempo.

DANIEL - Em jeito de conclusão, que conselho deixas aos mais jovens atletas Gafanhões que estão a ler esta entrevista e que também terão ambição de um dia chegar ao patamar onde estás?

JOANA - O sonho comanda a vida. Há que ser persistente em tudo aquilo que realmente se quer. O grande problema dos jovens hoje em dia é que assim que se deparam com obstáculos difíceis de ultrapassar simplesmente desistem. Falhar, perder, faz parte do processo. Ter sorte também faz parte mas, depois de tantos anos, aprendi que quanto mais se trabalha mais sorte se tem.

DANIEL: Penso que não será descabido agradecer-te em nome de todos os membros deste grupo, pela tua disponibilidade em fazer esta entrevista, mesmo tu tendo uma agenda bastante preenchida, como aliás verificámos anteriormente.

Desejo-te a maior felicidade tanto para a tua carreira profissional como atleta, como para a tua vida em geral. Orgulhamo-nos imenso de ter alguém da tua qualidade a representar Portugal e a Gafanha da Nazaré lá fora. Até um dia.

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