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Peço desculpa pelo "abuso de poder", correndo o risco (todo) de eventual crítica dos colegas de direcção, treinadores e "família GDG Basquetebol" pelo texto extra-basquetebol.
Mas, como sempre defendi (incluindo estes 25 anos de treinador - os mesmos que a secção), a vida vai muito mais para além de um simples jogo de basquetebol. E essa também é a responsabilidade social do clube. Há alturas que não se pode ficar indiferente.
Transcrevo (com a devida permissão dos meus "meninos") a mensagem que enviei aos meus atletas (Sub18 masculinos) sobre os acontecimentos ocorridos ontem, em Paris, nas instalações do jornal Charlie Hedbo. Para conhecimento geral porque (entendo) isto também é ser GDG.
«Caros Atletas
Como sempre defendi ao longo destes quase 25 anos de treinador e como sempre vos disse desde a primeira hora em que nos juntámos, há toda uma vida e um mundo para além do basquetebol: a família, a escola, o trabalho, o clube e… a sociedade.
Tão ou mais importante que a vossa formação desportiva é a vossa formação humana e social, a vossa capacidade para gerarem massa crítica e desenvolverem o vosso sentido de cidadania. Sempre que, aliada à vossa capacidade e ao vosso desenvolvimento desportivo, um treinador, um seccionista, um director, conseguir cumprir este importante papel (não de educador, porque esse pertence aos vossos pais) de formador, o clube, a vossa equipa, vocês individualmente, ganharam todos os títulos, tacinhas e medalhinhas, que possam imaginar, independentemente de qualquer outro resultado desportivo e competitivo.
Julgo que vocês (ou a maioria, porque há sempre um ou outro mais distraído) não ficaram indiferentes (pelo menos no conhecimento) ao que se passou ontem, em Paris, na redacção do jornal francês Charlie Hedbo.
O que para mim, e muitos camaradas jornalistas (camaradas é o termo com que adjectivamos um colega profissional, não tem nada de partidário), por razões profissionais consideramos o acontecimento de ontem como um dos mais bárbaros atentados à liberdade de imprensa, deve ser visto, por todos nós (todos os cidadãos), como um dos mais graves e duros golpes na liberdade de expressão e opinião, um dos princípios fundamentais do sistema democrático.
Tentem, por breves instantes, imaginar o que seria a vossa vida sem uma informação livre e plural; Tentem, por breves instantes, imaginar o que seria a vossa relação em sociedade (na escola, em casa, na rua, no GDG, no café/bar, etc) sem a liberdade de poderem falar, pensar e agir, de forma livre, pessoal, com a vossa consciência e convicções, com a vossa opinião; Tentem, por breves instantes, imaginar o que seria a vossa vida se a vivessem sob o medo, o terror, a mordaça, a imposição e a ditadura; Tentem, por breves instantes, imaginar o que seria de nós sem podermos viver com os nossos valores, princípios e crenças.
Nem sempre concordei com a crítica e as caricaturas do jornal Charlie Hedbo. Como católico (mesmo preguiçoso quanto à prática e muito crítico quanto à estrutura da igreja… vá lá, salva-se o Papa Francisco) não é fácil olharmos de forma indiferente para muitos dos cartoons que o jornal produziu sobre o Vaticano e a Igreja; como social-democrata por princípio (não me confundam com este Governo e este PSD, por favor) não é fácil manter algum distanciamento quanto à crítica que o jornal parisiense faz aos valores da verdadeira social-democracia. Mas, meus caros, nada é mais abominável, nada deve ser mais condenável e criticado, do que a censura, a intolerância quanto às convicções e opiniões diferentes, o direito à crítica, o direito a pensarmos e olharmos o mundo e a vida de formas diferentes. Muitos menos que se MATE como forma de silenciar quem pensa diferente de nós e quem, com toda a LIBERDADE, tem o direito de nos criticar.
Nunca a frase do filósofo, curiosamente francês, Voltaire tem tanto sentido face ao que aconteceu ontem, em França: "Je ne suis pas d’accord avec ce que vous dites, mais je me battrai pour que vous ayez le droit de le dire” ("Não concordo com o que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito a dizê-lo").
A liberdade de informação, a liberdade de expressão e opinião, são direitos fundamentais na estrutura de uma sociedade livre e democrática (daí estarem presentes nas constituições de muitos países e na Carta do Direitos Humanos). O abuso (e que os há) do exercício deste direito tem mecanismos próprios para ser combatido (a crítica, a contra-opinião, o poder judicial). A MORTE nunca foi, é ou pode ser a SOLUÇÃO.
Assim como não podemos, nem devemos, seja ao nosso lado, seja a milhares de quilómetros de distância, ficarmos indiferentes ao que aconteceu ontem na redacção do jornal Charlie Hedbo. Porque se não lutarmos, não denunciarmos, não “chorarmos”, pelos nosso valores e por quem por eles foi vítima, há-de chegar a nossa vez e ninguém o fará por nós.
Isto faz-me recordar ainda um poema de um dos símbolos da resistência nazi, em plena II Guerra Mundial. Dizia, em 1933, Martin Niemöller:
“Um dia vieram e levaram o meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram o meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram e levaram o meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e levaram-me… já não havia mais ninguém para reclamar.”
Vocês podem não ser jornalistas (ou de comunicação) mas nem sonham o que é viver sem o direito aos mais elementares princípios e liberdades fundamentais. Isto não é apenas (e por si só já o justificaria) um atentado à Liberdade de Informação. É muito mais… é atentar contra a democracia, as liberdades de expressão e opinião. E isto cabe a TODOS NÓS.
A palavra e a imagem, o poder da palavra e o poder da imagem, são armas muito fortes contra a tirania, a ditadura, a opressão. A intolerância e a falta de liberdade tiraram a vida a 12 pessoas (oito das quais jornalistas).
Mas, acima de tudo, os acontecimentos em Paris são um ataque contra a Liberdade: porque foram mortos aqueles que eram livres no pensamento e na acção (liberdade de expressão e opinião); e porque promoveu o medo em quem ainda vive e condiciona/limita o exercício do direito à liberdade.
Pior do que a morte daqueles que perderam a vida na defesa da Liberdade é aceitarmos e sujeitarmo-nos ao medo, ao silêncio e à auto-censura. Porque, dessa forma, vencerá sempre o ódio e o terrorismo.
Combatam a crítica com a crítica; combatam a intolerância com o direito à diferença (de convicções, de princípios, de valores, de vida, de culturas, de credos, …); combatam a palavra com a palavra; combatam o cartoon com o cartoon; combatam um cesto falhado com um roubo de bola; combatam uma derrota com a entrega e a dedicação ao jogo e ao basquetebol; mas nunca, nunca na vida, combatam a Liberdade com a morte. Porque podermos viver em LIBERDADE é a maior das conquistas da condição humana. Por isso, por solidariedade e em defesa da LIBERDADE, o vosso treinador, durante estes três dias (e sempre): “Je suis Charlie Hedbo”.
Desculpem a “palestra” (como se queixa sempre o Albano) mas este era um “jogo” que eu não podia deixar de “vencer” convosco. Ficam, para terminar, as duas reflexões pessoais no dia de ontem:
"A Morte nunca há-de ser solução"
Ainda a propósito de "A Morte nunca há-de ser solução"...
Abraço. Miguel Araújo»
COORDENAÇÃO
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